segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Ou isto ou aquilo

 Ou isto ou aquilo




O dono da usina, entrevistado, explicou ao repórter que a situação é grave. Há excedente de leite no país, e o consumo não dá pra absorver a produção intensiva:

– Uma calamidade. Imagine o senhor que o jornal aqui do município reclama contra a poluição do rio, que está coberto por uma camada alvacenta. Não é nenhum corpo estranho não, é leite. Estão jogando leite no rio porque não têm mais onde jogar. Os bueiros estão entupidos. A população, como o senhor deve saber, é insuficiente para beber toda essa leitalhada ou comê-la em forma de queijo, requeijão, manteiga e coisinhas.

– Insuficiente? Parece que a produção de crianças ainda é maior que a produção de leite.

– Numericamente sim, mas não têm capacidade econômica para beber leite. Têm apenas boca, entende? Então nada feito. Se falta dinheiro aos pais dos garotos para adquirir o produto, ainda bem que se joga leite fora, em vez de jogar os garotos.
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Carlos Drummond de Andrade (1902 – 1987)   Contos Plausíveis (com 150 ilustrações de Márcia e Irene), José Olympio Editora, 2ª edição, 1985, Rio de Janeiro  RJ.